quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Crime e Castigo


Ontem terminei de ler "Crime e Castigo", de Dostoiévski. O livro conta a história de Raskólnikov, um estudante de São Petersburgo que se encontra em estado de pobreza quase absoluta, abandona a faculdade e começa a enlouquecer devido à vida que leva e a seus pensamentos amorais. Comete um crime, baseado na infalível questão de que todos cometem crimes, e cai adoentado por vários dias. A reaproximação de seu melhor amigo da faculdade, a reaproximação de sua família (mãe e irmã, que vieram morar perto dele), a notícia de que sua irmã vai casar com um figurão de São Petersburgo, o interrogatório da polícia sobre sua relação com a vítima do crime que ele cometeu, a recém-amizade com um aposentado bêbado e inútil, e, por conseguinte, a aproximação de Raskólnikov com a família deste aposentado... tudo vai contribuindo para que Raskólnikov vá minando suas forças e confundindo suas idéias, chegando a ser considerado como louco por alguns.

A maneira de Dostoiévski escrever - sem eufemismos ou rodeios desnecessários - é extremamente radical para quem não está acostumado. Cru. Seu vocabulário extenso e sua descrição sobre fatos e lugares é o que menos importa. Ao se confrontar com sua narrativa, o leitor percebe como ele influenciou toda a literatura universal (Graciliano Ramos que o diga). Dostoiévski não pinta um mundo de sonhos, mas mostra a realidade como ela é. Mostra que toda pessoa é amoral em algum sentido. Raskólnikov passa de protagonista para antagonista, e vice-versa, em questão de páginas. Suas virtudes e seus defeitos são reconhecidos por cada pessoa que está lendo o livro. É um personagem humano, no sentido de que o ser humano é ser passível de erros grotescos e acertos memoráveis. O arrependimento, o despertar para uma nova vida, o tratamento com as pessoas, cada virtude ou defeito de cada personagem do livro é passível de julgamentos do leitor. E não é assim que é na "vida real"?

Gostei muito da parte final do livro, do epílogo. Ao mesmo tempo que Dostoiévski nos pinta esse mundo real, que é cruel, também nos dá a certeza de que é possível sonhar, mesmo que o sonho seja algo bem distante e quase impossível de ser realizado.

Eu vivo num mundo cruel, não porque o mundo seja de fato cruel, mas porque EU permito que ele seja cruel. É isso que Dostoiévski nos passa. E o final do livro me fez ver que há saída para tudo, mesmo que a saída esteja somente nos nossos pensamentos.

Um comentário:

Tatiana Campos disse...

Muito bom o texto, Frê!!! Dá vontade de ler o livro!!!
E é isto mesmo... cada um é responsável pelo que cativas... a gente faz a nossa história!

Ps: Tb me acho amoral, às vezes! Mas só de vez em quando!